sábado, 9 de março de 2013

Análise: O Povo Contra Larry Flynt (The People vs. Larry Flynt, 1996)



Direção: Milos Forman
Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski
Elenco: Woody Harrelson, Brett Harrelson, Courtney Love, Edward Norton, James Cromwell, Crispin Glover
Duração: 129 minutos
Gênero: Biografia / Drama
Países: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Resumo: A história do controverso Larry Flynt, criador da revista pornográfica Hustler.

Algumas biografias adaptadas para o cinema têm a tendência de transformar a figura abordada em um ser humano que beira a perfeição. O recente Lincoln, de Steven Spielberg, é um exemplo disso. O presidente é tratado como um ser divino, enviado dos céus para  livrar os norte-americanos da escravidão – e até o encerramento do filme tende a transformar o personagem em uma figura ainda mais icônica. De todo modo, em O POVO CONTRA LARRY FLYNT, Milos Forman também segue levemente essa tendência, mostrando o controverso criador da Hustler como uma figura praticamente à prova de erros.

Forman é um diretor que, apesar de possuir um currículo invejável, com ao menos duas obras primas - UM ESTRANHO NO NINHO (ONE FLEW OVER THE CUCKOO'S NEST, 1977) e AMADEUS (1984) -, é visto com olhos desconfiados pela imprensa americana. No entanto, ele faz mais uma vez um trabalho que beira a perfeição. Apesar de algumas incorreções históricas que tendem a fazer o espectador sentir maior afeto por Flynt, a “leveza” com a qual o diretor carrega o filme é admirável.  É curioso ver como ele consegue, com a breve cena inicial, definir qual é a mentalidade de Larry. Após uma breve briga com o pai, o jovem diz para o irmão: “Eu só quero ganhar algum dinheiro de maneira honesta”, e logo após a cena corta para Larry já em seu bar de strippers vinte anos depois. A idéia que o diretor dá é evidentemente feita para causar dualidade pois tendemos a pensar que o dinheiro que Larry está ganhando daquela maneira não é honesto, mas é tão honesto quanto qualquer profissão legal.

Woody Harrelson, no melhor papel de sua carreira interpreta Larry na fase adulta, enquanto sua esposa, Alethea Flynt é interpretada, também de maneira brilhante, por Courtney Love. A parte inicial do filme mostra a criação da revista e o relacionamento de Larry tanto com Alethea como com seu irmão Jimmy (Brett Harrelson), seu co-sócio, bem como com outros colaboradores da revista. No entanto, a maior parte do tempo é dedicada às batalhas judiciais que Larry enfrentou durante a vida, com ajuda de seu advogado Alan Isaacman (Edward Norton), sempre defendendo a liberdade de expressão, pois Larry foi processado diversas vezes por ofender pessoas em suas revistas.

Mesmo com grande foco nos tribunais, a relação entre Larry e Alethea é mostrada de maneira muito inteligente por Forman. O diretor conseguiu mostrar que tal relação sempre foi pautada por respeito, mesmo com o casal concordando com a poligamia. Isso acaba sendo tocante principalmente nas partes finais do filme, em que mesmo sabendo que Larry passa por situações irreversíveis, Alethea jamais o abandona. Apesar de ela ser a quarta esposa de Flynt, Forman inteligente oculta isso, pois se não o fizesse, talvez o público tivesse menos empatia tanto por ele quanto por ela. Como filme, O POVO CONTRA LARRY FLYNT acaba se mostrando uma obra praticamente irrepreensível, e entristece saber que Forman produziu tão poucos filmes em sua carreira.


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