terça-feira, 16 de abril de 2013

Análise: A Proposta (The Proposition, 2005)


Direção: John Hillcoat
Roteiro: Nick Cave
Elenco: Guy Pearce, Ray Winstone, John Hurt, Danny Huston, Richard Wilson, Emily Watson
Duração: 104 minutos 
Gênero: Drama / Western
País: Austrália
Idioma: Inglês
Resumo: Após ser preso junto com seu irmão caçula, Charlie recebe uma proposta: matar o irmão mais velho em 9 dias ou ver o caçula ser executado

 
Alguns dias atrás me perguntaram se eu assistia a todo tipo de filme. Respondi que sim, e de fato assisto a tudo que posso, tentando variar o máximo possível. No entanto, se existe um gênero com o qual eu tenho um certo preconceito, é o Western. O pior de tudo é que essa minha posição é totalmente inexplicável, pois não consigo lembrar de assistir a um filme deste gênero que não tenha sido bom. Eis que resolvi assistir A Proposta e, mais uma vez, me senti envergonhado por ter essa barreira contra o gênero.

O filme se inicia com um tiroteio, e, que culmina com os irmãos Charlie Burns (Guy Pearce) e Mike Burns (Richard Wilson) sendo presos pelo Capitão Stanley (Ray Winstone). Este faz uma proposta a Charlie: que mate seu irmão mais velho, Arthur Burns (Danny Huston) - responsável pelo estupro e assassinato de Eliza Hopkins e sua família -, em 9 dias, caso contrário, Mike será enforcado. Assim, Charlie parte à busca do irmão, e acaba se deparando com personagens interessantes, entre eles Jellon Lamb, interpretado por John Hurt, que, se não estava bêbado, fez uma das melhores retratações de uma pessoa nessas condições. A narrativa se divide em duas partes, sendo uma a que envolve a busca de Charlie pelo irmão mais velho e outra que mostra como o Capitão Stanley deve lidar com a pressão da população e da própria esposa (Emily Watson), que anseiam pela cabeça de Mike Burns, por considerar que todos os membros da família são culpados pela morte Eliza.


O roteiro é assinado por Nick Cave, bastante conhecido pelo seu trabalho com a banda "Nick Cave And The Bad Seeds", e que também é responsável (ao lado de Warren Ellis) pela linda trilha sonora,cuja qualidade é constatada já na abertura do filme, composta de uma montagem com fotos da Austrália no século 19 com a música 'Happy Land' ao fundo. A parte visual do filme é muito bem tratada, tanto na retratação do deserto australiano, conseguindo capturar bem a natureza do país, como no realismo das cenas de violência, que renderam algumas críticas ao filme pelo excesso de gore. O figurino dos personagens foi totalmente feito à mão (até mesmo os botões das roupas) e é difícil acreditar que A Proposta custou apenas dois milhões de dólares, ainda mais levando em consideração que qualquer produção meia boca feita atualmente facilmente passa dos 2 dígitos, quando não dos 3.

Um ponto interessante do filme é a retratação dos aborígenes dentro da Austrália do século retrasado, com o uso de alguns atores nativos, entre eles David Gulpilil, que iniciou a carreira nos anos 70 no filme A Longa Caminhada (Walkabout, 1971) de Nicolas Roeg e que recebeu grande destaque na obra prima A Última Onda (The Last Wave, 1977) de Peter Weir. E vale comentar sobre a capacidade de Guy Pearce para fazer papéis totalmente diferentes uns dos outros, sendo esse o quinto filme do ator que eu vejo sem conseguir reconhecê-lo.


Com A Proposta, John Hillcoat fez seu melhor trabalho até agora, e este filme fez com que o diretor ficasse conhecido no cenário mundial, principalmente por fazer algo de tamanha qualidade com um humilde orçamento. Com isso, ele recebeu a chance de fazer outros trabalhos, com o bom A Estrada (The Road, 2009) e posteriormente reeditou a parceria com Nick Cave, que gerou o regular Os Infratores (Lawless, 2012).


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