segunda-feira, 29 de abril de 2013

Análise: Febre de Primavera (Chun Feng Chen Zui De Ye Wan, 2009)

Direção: Ye Lou
Roteiro: Feng Mei
Elenco: Jiaqi Jiang, Sicheng Chen, Hao Qin, Wei Wu, Zhuo Tan
Duração: 116 minutos
Gênero: Drama
Países: China / França
Idioma: Mandarim
Resumo: Ao desconfiar que seu marido tem uma amante, Lin Xue coloca um detetive para seguir seus rastros. No entanto, tudo desmorona quando ela descobre que ele está tendo um caso com outro homem


O cineasta Ye Lou foi banido por 5 anos na China, ficando proibido de fazer filmes após seu Palácio de Verão (Yihe Yuan, 2006) fazer alusão aos eventos ocorridos na Praça da Paz Celestial em 1989. Aquele filme foi inclusive escolhido para o Festival de Cannes de 2006, mas foi retirado da competição por ordens do governo chinês. Então, em 2009, Lou fez algo inusitado: conseguiu financiamento com investidores de Hong Kong e França e conseguiu fazer outro filme na China, mesmo ainda banido. O resultado de tal atitude se vê em tela, pois, filmado com uma câmera digital, Febre de Primavera mostra um senso de urgência muito grande, com muitas cenas feitas em becos escuros e locais isolados, e com iluminação precária. O próprio diretor deu uma entrevista ao NY Times dizendo que a todo momento ele temia ser pego pelas autoridades e ter seu equipamento confiscado.

A trama do filme é tão polêmica quanto a de seu longa anterior, e trata de um "pentágono amoroso". Lin Xue (Jiaqi Jiang) é uma professora que suspeita que seu marido (Wei Wu) tem uma amante. Para tirar essa dúvida, ela resolve colocar o detetive particular Luo Haitao (Sicheng Chen) para segui-lo. O que ela não imaginava é que o marido estava envolvido com outro homem, o misterioso Jiang Cheng (Hao Qin). Após descobrir a traição do marido, Lin o confronta e este acaba vendo seu relacionamento com Jiang terminar. O detetive Luo, intrigado com a personalidade de Jiang, acaba também se tornando amante dele e trás a sua namorada, Li Jing (Zhuo Tan) para dentro deste relacionamento.

A descrição que dei pode parecer um pouco confusa, mas o filme não faz nenhuma questão de deixá-la simples, havendo reviravoltas e personagens entrando e saindo de cena a todo momento. Essa confusão é aprofundada pela câmera do filme, que age quase como o sentimento de cada um dos envolvidos na trama. Em certa cena envolvendo uma discussão, a câmera balança e parece fazer parte da disputa, e em outra, vemos os amantes se encontrando, e a câmera agindo quase como um espião, mostrando a ação apenas por uma pequena fresta de uma porta entreaberta.


Diz-se que um dos objetivos de Ye Lou com Febre de Primavera era envergonhar o governo chinês, e, para isso, além de indicar que a repressão sexual é apenas um retrato da repressão política que o povo daquele país sofre, também não tem pudores em mostrar as cenas de homossexualismo. Logo nos minutos iniciais do longa, vemos o casal que está sendo espionado se encontrando e indo para uma casa em uma floresta. Ao entrar na casa, a câmera mostra tudo que acontece ali, com exceção de sexo explícito - que está presente em Palácio de Verão.


Por mais provocativo que o filme seja no seu início, criando uma atmosfera intrigante, com o tempo ele vai enfraquecendo, principalmente pelas decisões estranhas que seus personagens tomam, em particular o detetive. De todo modo, é interessante ver uma China que geralmente não aparece nos filmes, com bares underground tocando rock e clubes em que drag-queens fazem apresentações. No geral, o filme teve o mesmo efeito que Palácio de Verão, com um início muito bom, mas que fez minha empolgação cair um pouco com o tempo.

0 comentários:

Postar um comentário