terça-feira, 23 de abril de 2013

Análise: O Adversário (L'Adversaire, 2002)

Direção: Nicole Garcia
Roteiro: Nicole Garcia, Jacques Fieschi, Frédéric Bélier-Garcia
Elenco: Daniel Auteuil, Géraldine Pailhas, François Cluzet, Emmanuelle Devos, Alice Fauvet, Martin Jobert
Duração: 129 minutos
Gênero: Mistério / Drama
Países: França / Suiça / Espanha
Idioma: Francês
Resumo: Jean Marc Faure toma decisões drásticas após descobrirem que ele está vivendo uma mentira há 20 anos

As pessoas geralmente mentem por coisas pequenas. Falam que pagaram um preço por um produto, mas na verdade pagaram outro; falam que o despertador quebrou, mas quiseram dormir mais um pouco; falam que a comida estava boa, mas estava ruim. Essas atitudes são bem naturais para o ser humano. O Adversário, no entanto, mostra uma pessoa que mentiu por 20 anos de sua vida, e construiu todo seu círculo de amigos e uma família com base nesta mentira.


O filme é baseado no livro de Emmanuel Carrère e retrata a história real de Jean Marc Faure (Daniel Auteuil), que é casado com Christine (Géraldine Pailhas) e pai de duas crianças. Toda a família e amigos de Jean Marc, como Luc (François Cluzet) - que o conhece desde o segundo ano da faculdade - sabem que ele trabalha como médico na OMS. Jamais houve o mínimo de desconfiança sobre a situação financeira e empregatícia dele. Mas alguns acontecimentos fazem as pessoas que o rodeiam desconfiar de algumas atitudes dele e, ao mesmo tempo, ele começa a desenvolver uma paixão extra marital por Marianne (Emmanuelle Devos). O dinheiro que ele consegue para suprir as necessidades da família é conseguido de maneira curiosa: Jean Marc toma dinheiro emprestado dos familiares com a desculpa de que colocará em uma carteira de investimentos no estrangeiro.


Vale avisar que talvez seja necessário assistir ao filme mais de uma vez para conseguir pegar todos os detalhes que ele mostra, em especial pela péssima montagem que ele possui. Apenas para comparar, no post de Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need To Talk About Kevin, 2011), fiz questão de elogiar a montagem, pois, mesmo viajando a todo momento para diferentes linhas temporais, Lynne Ramsay teve a decisão inteligentíssima de modificar o corte de cabelo de Tilda Swinton em cada linha temporal. Assim, ficava fácil saber onde estávamos e nos situar dentro da narrativa.


Em O Adversário, ao contrário, a montagem cria uma salada enorme na cabeça do espectador. Na primeira hora do filme, nós vagamos por quatro ou cinco momentos diferentes no tempo, sem praticamente nenhuma guia para nos mostrar onde estamos. Apenas na segunda hora da obra é que a diretora começa a colocar personagens dando testemunhos sobre suas versões da história (e mesmo esses testemunhos sofrem com mudanças de tempo drásticas), e a narrativa passa a ser um pouco melhor digerida.


Superando esses problemas, é possível encontrar um filme bem interessante, cuja atuação de Auteuil é o centro de tudo. A falta de emoção mostrada pelo personagem em certos momentos nos faz questionar o que leva o ser humano a fazer algo tão abominável. Inclusive, no momento em que o filme terminou, a primeira pergunta que fiz foi: "Porque será que ele fez tudo isso?". Minha namorada me deu uma resposta que se encaixa bem no que vemos a cada dia nas notícias de todos os jornais: "Existem pessoas que simplesmente são assim, não dá pra explicar a loucura".

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