sexta-feira, 12 de abril de 2013

Análise: O Labirinto de Kubrick (Room 237, 2012)

Direção: Rodney Ascher
Elenco: Bill Blakemore, Geoffrey Cocks, Juli Kearns, John Fell Ryan, Jay Weidner
Duração: 102 minutos 
Gênero: Documentário
País: Estados Unidos 
Idioma: Inglês 
Resumo: Coletânea com várias teorias sobre o filme O Iluminado, de Stanley Kubrick.




AVISO: se você não assistiu O Iluminado, não há sentido nenhum em assistir a esse documentário, pois ele contém vários spoilers do filme citado.

Mais de 30 anos após seu lançamento, O Iluminado (The Shining, 1980) ainda é um filme que angaria fãs ao redor do mundo. Mesmo não sendo difícil de seguir sua narrativa, muitos elementos colocados nele deixam as pessoas intrigadas, perguntando qual o seu real significado. Para tentar jogar uma luz sobre alguns dos elementos do filme, surgiu o documentário O Labirinto de Kubrick, que reúne uma série de teorias sobre os eventos que ocorrem naquela obra.
O documentário cumpre bem o papel de mostrar uma das coisas mais satisfatórias sobre o trabalho de Stanley Kubrick: a grande quantidade de interpretações que ele gera. E isso é bastante prazeroso, pois, assim como toda obra de arte, o público atingido pode achar que uma cena, um quadro ou um poema significa uma coisa, mas para outra pessoa, o significado pode ser diferente. Melhor ainda, ambos podem estar certos, pois, dentro de suas próprias experiências pessoais, aqueles símbolos indicam coisas que fazem todo o sentido.


Nessa linha, algumas suposições do documentário me pareceram bem subjetivas, com poucos elementos para sustentá-las, como aquelas que falam que o filme trata sobre o holocausto, principalmente por usar símbolos que remontam àquele fato, como o uso de uma máquina de escrever alemã, águias em várias partes do cenário e a constante repetição do número 42, que simboliza o ano em que os judeus começaram a ser exterminados pelos nazistas. Outras teorias me pareceram bem mais descabidas, suportadas apenas por um ou outro elemento presente no filme, como a possibilidade de a obra ser uma representação do genocídio dos índios nos EUA ou uma alegoria para o labirinto do Minotauro. Também existem algumas hipóteses absurdas, mas que acabam engraçadas, como o fato do gerente do hotel ter uma ereção quando conhece Jack Torrance e/ou o rosto de Kubrick nas nuvens.

Uma ponto interessante apresentado no filme é relacionado à viagem do homem à Lua. Para quem não sabe, existe uma teoria da conspiração de que todas as imagens envolvendo aquele evento foram feitas em estúdio e dirigidas por Stanley Kubrick. Dessa forma, o teórico não nega em momento nenhum que o homem conseguiu chegar até lá, mas mostra uma série de símbolos dentro do filme que supostamente são dicas que o diretor deu, indicando que ele participou daquela encenação. 


Há outros elementos curiosos no filme, como a ocorrência de uma série de eventos  – e para mim isso não passa de coincidência - se você assisti-lo simultaneamente do fim para o começo e do começo para o fim, como sobreposição de cenas em que Jack Nicholson parece um palhaço com sangue em seu rosto, ou Danny escondendo o rosto entre as mãos e quando dá uma pequena espiada, dar de cara com Delbert Grady. Infelizmente, foram deixados de lado alguns pontos que também são importantes no filme de Kubrick, como a utilização e a importância das cores em cada cena, a aparição do homem com fantasia de urso, entre outros.

O que me deixou mais intrigado foram situações que eu sempre encarei como erros de continuação dentro de O Iluminado. O filme supostamente é recheado destes equívocos, como exemplo, nas cenas em que uma cadeira aparece e desaparece entre takes seguidos. Há também as conhecidas cenas em que o ambiente se modifica quando Dick Halloran está apresentando o hotel para Wendy e Danny. O que, para mim, sempre foi um erro – apesar do perfeccionismo de Kubrick –, pode ter sido intencionalmente feito para mostrar que o hotel tinha “vida própria”, mudando seus ambientes de modo a mexer psicologicamente com seus habitantes. Até os tapetes do ambiente parecem se inverter entre uma cena e outra, e dentro do documentário é sugerido um motivo para isso. E, como o próprio título sugere, existe uma parte do filme dedicada apenas a teorias relacionadas ao temido quarto 237.


Por mais interessante que algumas teorias pareçam, ficaremos para sempre com a dúvida, pois, mesmo se Kubrick ainda estivesse vivo, com toda a certeza ele não se manifestaria sobre qualquer ponto que O Labirinto de Kubrick levantou. E ainda bem que ele sempre se comportou desta maneira, pois, como todo admirador de um bom mistério sabe, a resposta é, na maioria das vezes, menos intrigante do que a pergunta.

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