quarta-feira, 24 de abril de 2013

Análise: Sharasojyu (2003)

Direção: Naomi Kawase
Roteiro: Naomi Kawase
Elenco: Naomi Kawase, Kohei Fukungaga, Yuka Hyyoudo, Katsuhisa Nawase
Duração: 100 minutos
Gênero: Drama
Países: Japão
Idioma: Japonês
Resumo: Acompanhamos o cotidiano de uma família após o desaparecimento de uma criança




Não há sinopse que faça justiça ou descreva fielmente tudo o que se passa em Sharasojyu. Digo isso, pois, além de qualquer coisa, esta é uma obra que é muito mais para ser sentida do que entendida. O filme abre com dois irmãos, Shun e Kei, brincando e correndo pela rua, até que Kei acaba entrando em um beco e desaparece misteriosamente. 

Na próxima cena já estamos alguns anos à frente, e Shun (Kohei Fukungaga) já é um adolescente. O pai dele, Taku (Katsuhisa Namase) recebe um telefonema dizendo que Kei foi encontrado, mas nunca sabemos em que condição, ficando subentendido que provavelmente o garoto foi encontrado morto. Isso pode soar estranho, mas Kawase não quer focar na investigação policial ou na busca por Kei e sim verificar os efeitos causados na família pela ausência dele.

Para mostrar esses efeitos, Kawase não faz questão nenhuma de acelerar as coisas, e conta tudo em um ritmo calmo e pacífico. Reiko, a mãe da família – interpretada pela própria Kawase – está prestes a dar a luz e passa o dia cuidando da horta que tem no quintal. Taku, por sua vez, ocupa seu tempo organizando o festival Basara, que envolve danças e eventos culturais. Shun visivelmente sente-se culpado pelo sumiço do irmão, mas tenta superar recebendo o apoio da namorada Yu (Yuka Hyyoudo). Apesar de os personagens, quase nunca falarem sobre Kei, alguns diálogos mostram como eles se sentem em relação ao ocorrido. Taku, por exemplo, em uma conversa com Shun, diz: “Estou tentando organizar meus pensamentos. Eu pensei por muito tempo, e cheguei à conclusão de que algumas coisas nós podemos esquecer, algumas nós não podemos esquecer e outras nós devemos esquecer. Onde isso vai me levar? Eu não sei dizer, mas estou tentando deixar isso bem claro em minha cabeça”.


O trabalho de direção de Naomi Kawase é muito eficiente em retratar alguns pontos da cultura japonesa e algo que impressiona é a calma que seus personagens transmitem. A cena em que um deles descobre que seus pais não são quem ela pensava e outra que mostra um parto traduz bem o que estou falando. Este último, em particular, é tratado como algo belíssimo, e não me lembro de ter visto nada parecido em outros filmes. Geralmente – ao menos no cinema -, quando vemos uma mulher trazendo uma vida ao mundo, tudo é rodeado de gritarias, xingamentos e outras coisas do tipo. No entanto, em Sharasojyu, o bebê chega ao mundo no ambiente mais propício, onde ele é o único a fazer o escândalo com seu choro. 

Há também as soberbas cenas do festival, que são de uma beleza estonteante. Mais cedo no filme, Taku diz que o objetivo do festival é levar alegria às ruas, e isso é alcançado de maneira tão primorosa que nós nos sentimos parte daquilo, e, particularmente, me senti contagiado por aquela dança e alegria transmitida. E a partir do momento em que começa a chover, o que já era belo se transforma em algo quase divino.


Quem for assistir Sharasojyu esperando por algo mais agitado corre grande risco de ficar entediado – e entendo perfeitamente quem se sente assim. Conhecendo o trabalho de Kawase, eu já tinha ao menos uma noção do que me esperaria, então deixei para assistir em uma manhã que foi antecedida por uma ótima noite de sono, para não haver nenhum perigo de eu me sentir cansado durante o filme. Sábia escolha da minha parte, pois ver esse trabalho de Naomi Kawase se tornou uma experiência inesquecível.

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